19 de jan. de 2023

Meus poemas favoritos- Paulo Leminski



Meu poeta favorito é o Paulo Leminski desde o dia que minha irmã me deu um livro dele. Eu marquei o livro todo nos meus poemas favoritos e vou mostrar alguns deles.

Incenso fosse música

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Não discuto

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

O que quer dizer

O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Rumo ao sumo

Disfarça, tem gente olhando.
Uns, olham pro alto,
Cometas, luas, galáxias.
Outros, olham de banda,
Lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
Sempre tem gente olhando,
Olhando ou sendo olhado.

Outros olham para baixo,
Procurando algum vestígio
Do tempo que a gente acha,
Em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
Já que dentro não tem nada.
Apenas um peso imenso,
A alma, esse conto de fada.

Objeto sujeito

você nunca vai saber
quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado de dentro
como fazer de um verso
um objeto sujeito
como passar do presente
para o pretérito perfeito
nunca saber direito

você nunca vai saber
o que vem depois de sábado
quem sabe um século
muito mais lindo e mais sábio
quem sabe apenas
mais um domingo

você nunca vai saber
e isso é sabedoria
nada que valha a pena
a passagem pra pasárgada
xanadu ou shangrilá
quem sabe a chave
de um poema
e olha lá

Selecionei 7 mas tem mais. Eu acho que cada poema tem uma imensidão dentro de si. Espero que vocês parem pra ler com bastante calma e apreciem o tanto que eu aprecio.

Beijos, Ru.

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