Ana estava correndo atras de seu cachorro, Ted fugia sempre que ela se descuidava. Quase fora atropelada atravessando a rua sem olhar, no intuito de não perder seu cão de vista. Ela o viu entrando em uma rua estreita e ponderou sobre entrar ali ou não. Ele parou e sentou-se ao lado de um moço, que aparentemente morava na rua, e ficou encarando-a com as orelhas em pé.
Ela pôde respirar um pouco, já que havia corrido muito. Andou devagar até chegar aos dois.
- Ele é um belo cachorro, você tem sorte de ter essa companhia.
Ana encarou o moço por algum tempo. Ele era tão comum! Olhos e cabelos castanhos. Nada em si o fazia se distinguir dos demais, exceto seu ar calmo.
- Sim, ele é um ótimo amigo. Só me da problemas quando foge.
- Nós costumamos fugir imaginando que vamos encontrar algo melhor, uma aventura, quem sabe. Nunca pensamos que algo vai dar errado, não é mesmo?
- É, fazemos muita burrada.
- Enquanto isso, existem muitas pessoas que não se arriscam por nada e deixam a vida passar. Como você.
- Perdão?
- Ana, você passou sua vida trancafiada em um quarto, sentindo medo de arriscar qualquer coisa. Veja você agora, uma alma que só sai em busca do seu cão.
- Como você sabe meu nome? E como sabe se eu realmente não arrisco?
- Ah, eu não me apresentei, erro meu. Me chamo Daniel e sou seu anjo guia. Sabe, eu tenho te observado por anos. Os Grandes já sabiam que você morreria logo e não se daria conta. Veja, você morreu faz dez anos querida. Você precisa de um choque de realidade.
- Que absurdo isso, o senhor é louco! Vem Ted, vamos pra casa.
Ela começou a correr, mas logo Daniel apareceu em sua frente. O que a fez cair, já que o susto foi enorme.
- Eu só quero conversar. Não precisa disso.
- Socorro! Esse maluco está me seguindo! Alguém me ajuda!
Ninguém moveu os olhos para ela, o que a desesperou ainda mais.
- Olha aqui, eu vou ligar pra polícia se você não me deixar em paz.
- Você saiu sem celular. Olha, eu posso te provar que sou um anjo, me diz como você quer que eu me pareça.
- Ótimo, vai ser lindo você pagando de doido no meio da rua. Vira um loiro de olhos azuis.
E num estralar de dedos ela pode ver na sua frente um loiro de olhos azuis.
- O que? Que diabo?
- Na verdade eu sou um anjo, já falei! A gente pode sentar pra conversar?
Ele voltou a sua forma anterior e fez aparecer um banco próximo a eles. Fez sinal para que ela sentasse e como ela estava tão surpresa resolveu aceitar.
- O que ta acontecendo?
- Bom, as coisas começaram a ir mal quando você terminou o ensino médio e foi estuprada no beco em que me encontrou hoje. Isso fez com que você criasse pânico de sair na rua e passou a viver apenas no seu quarto, sendo sustentada por seus pais. Mas isso te fez entrar em uma depressão profunda, onde você parou de comer, tomar banho e até mesmo falar com eles. A vida em isolamento pode ser perigosa. Você não resistiu muito e acabou morrendo. Seus pais saíram da casa pois não suportavam lembrar de você, da menina alegre que eles viram um dia.
- Mas... Como eu ainda os vejo?
- Seu trauma foi gigante e isso fez com que quando você morresse sua memória voltasse a um tempo seguro, o qual você fica revivendo. Antes do seu ensino médio acabar.
Nesse momento todas suas memórias foram reajustadas, os momentos onde ela via seus pais mas estava só, quando seu cachorro fora adotado, seus dias de depressão e por último pôde se lembrar do seu grande trauma. E tudo nela doía tanto que foi impossível não chorar, mas parou assim que Daniel tocou nela. Sentiu uma paz total.
- Eu sinto muito que as coisas tenham tomado esse rumo, mas está na hora de seguir em frente. Você pode vir comigo pra um lugar melhor e nunca mais sentir essa dor.
Ela fez um maneio de cabeça e pegou em sua mão.
Muito bom
ResponderExcluirApenas chorei, vc escreve mt bem, amo ler suas histórias.
ResponderExcluirAah, obrigada <3
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